O Movimento Humanista
O Movimento Humanista é uma corrente de opinião formada por pessoas que participam das propostas do Novo Humanismo ou Humanismo Universalista. Essas propostas, em sentido mais amplo, estão expressas no Documento do Movimento Humanista.
O MH surgiu em 4 de maio de 1969 com uma exposição pública do seu fundador, Silo, «A Cura do Sofrimento», numa paragem dos Andes perto da fronteira entre a Argentina e o Chile.
Nesse discurso dá-se relevo à "superação da dor e do sofrimento" como propósito humano. A dor física pode retroceder face ao avanço da justiça e da ciência; o sofrimento mental denuncia um "estado de violência" e apenas poderá ser superado se dermos sentido e coerência à vida.
Propõe-se, portanto, uma transformação pessoal e social em simultâneo.
A ação social
O Movimento deu origem a diversos organismos e frentes de ação, como é o caso do Partido Humanista, da Comunidade para o Desenvolvimento Humano, da Convergência das Culturas, do Mundo sem Guerras e sem Violência e do Centro Mundial de Estudos Humanistas.
Todos eles se aplicam nos seus campos específicos de atividade com o objetivo de humanizar a Terra e têm em comum a metodologia da Não-violência ativa.
As propostas principais do movimento são:
- Colocação do ser humano como valor e preocupação central, de tal modo que nada esteja acima do ser humano nem nenhum ser humano acima de outro.
- A igualdade de todas as pessoas e a superação do simples formalismo de direitos iguais perante a lei, avançando para um mundo de iguais oportunidades para todos.
- Reconhecimento da diversidade pessoal e cultural , afirmando as características próprias de cada povo e condenando toda a discriminação que se realize em razão das diferenças económicas, raciais, étnicas, culturais, etc.
- Favorecimento do desenvolvimento do conhecimento para além das limitações impostas ao pensamento por preconceitos aceites como verdades absolutas ou imutáveis.
- Afirmação da liberdade de ideias e crenças.
- Repúdio de todas as formas de violência , não apenas as formas de violência física, mas também todas as formas de violência económica, racial, sexual, religiosa, moral e psicológica.
Estas propostas acabam por configurar um estilo de vida e um modo de relação que se pode expressar na frase: "trata os outros como queres que te tratem".
A mudança pessoal
Promovemos a criação de âmbitos para estudar e refletir sobre o mundo e sobre nós próprios. Fazemos várias práticas de distensão, auto-conhecimento, meditação dinâmica, entre muitas outras.
O mais importante é que nestes âmbitos haja bom trato entre todos e de cada um consigo mesmo. É um trabalho que cada um vai fazendo ao seu ritmo e à sua medida.
Têm sido criados um pouco por todo o mundo os Parques de Estudo e Reflexão. Em Portugal estamos a construi-lo na Póvoa do Lanhoso (Parque Minho) em conjunto com amigos galegos.
O movimento em Portugal
Atividades realizadas ao longo dos últimos anos:
- Reuniões de trabalho pessoal, encontros e seminários sobre os mais diversos temas;
- Encontros sociais e multi-culturais;
- Contacto com a população na rua, nas faculdades e nos bairros;
- Organização de conferências, fóruns locais e internacionais;;
- Edição de várias publicações em papel, áudio e vídeo, especialmente de âmbito local e universitário;
- Petições e recolhas de assinaturas sobre vários conflitos sociais;
- Legalização do Partido Humanista e participação nas eleições desde 1999;
- Projeto de apoio humano em Moçambique, formação de voluntários, criação de escolas de alfabetização e formação nas áreas da saúde preventiva e cooperativismo;
- Missões de divulgação da mensagem humanista no Brasil e no Egipto;
- Organização da Marcha Mundial pela Paz e Não-violência (rota Galiza Portugal);
- Participação em atividades diversas promovidas por outros coletivos e organizações;
- Projetos locais de democracia real - intervenção cívica e desenvolvimento pessoal.
O que é hoje o Movimento Humanista? (1998)
Extraído da conferência de Silo realizada em 4 de janeiro de 1998, no Estádio Obras Sanitárias, Buenos Aires, Argentina.
«O que é hoje o Movimento Humanista? Será um refúgio frente a esta crise geral do Sistema em que vivemos? Será talvez uma crítica sustentada a um mundo que se desumaniza dia a dia? Será uma nova linguagem e um novo paradigma, uma nova interpretação do mundo e uma nova paisagem? Representará uma corrente ideológica ou política; uma nova estética, uma nova escala de valores? Consistirá numa nova espiritualidade, numa acção destinada a resgatar o subjectivo e o diverso na acção concreta? O Movimento será a expressão de uma luta a favor dos despojados, dos abandonados e dos perseguidos, será a manifestação dos que sentem a monstruosidade de que os seres humanos não tenham os mesmos direitos nem as mesmas oportunidades?
O Movimento é tudo isso e muito mais. É a expressão prática do ideal de Humanizar a Terra e é a aspiração de ir em direcção a uma Nação Humana Universal. É o gérmen de uma nova cultura nesta civilização que se torna planetária e que terá que mudar o seu rumo, admitindo e valorizando as diversidades e dando a todo o ser humano, pela dignidade que merece, pelo simples facto de nascer, direitos iguais e oportunidades idênticas.
O Movimento Humanista é a manifestação externa das mudanças profundas que estão a operar no interior do ser humano e que são a própria história: trágica, desconcertante, mas sempre em crescimento. É uma voz débil adiantada que anuncia os tempos que estão mais além do ser humano que conhecemos. É uma poesia e um arco de cores diversas. É um David frente a um insolente Golias. É a suavidade da água frente à dureza da roca. É a força do débil: um paradoxo e um Destino.
Meus amigos, ainda quando não consigamos imediatamente os resultados que esperamos, esta semente já existe e espera a chegada dos tempos vindouros.
Para todos e de coração a coração, o desejo fervoroso de mudança social que se avizinha e a esperança da mudança silenciosa que, para lá de toda a compulsão, para lá de toda a impaciência, para lá de toda a aspiração violenta, para lá de toda a culpa e de todo o sentimento de fracasso, já germina na íntima profundidade de muitos humanistas.»